quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A arte visionária de Gerald Thomas


A arte visionária de Gerald Thomas



Submersos… nós estamos na sala sentados afundados em um sofá e lá fora chove. Em Nova York o céu está coberto por uma névoa densa que cobre a visão da janela e na televisão, casas submersas, árvores caídas, e a água sobe…
Submersos e catatônicos… a poucos dias atrás o furacão Florence veio trazendo um dilúvio de águas, agora vem o Furacão Michael, e lá fora chove, e na televisão os destroços, meu D´us não sobrou nada tudo foi destruído, e ele segue seu curso, e nós estamos aqui sentados submersos de notícias de dilúvios, de fake news, de Trump, Bolsonaro. Estamos submersos e tristes.
Na TV os jardins devastados, corpos frágeis tentando atravessar a chuva e o vento…Gerald sentado como uma criança.  Ele poderia ver “D`us” puxar um barco de expectativas. Só as crianças podem ver D`us.
Foi num grande rompante que eu comecei a perceber e identificar o processo criativo de Dilúvio como uma visão do futuro.
Dilúvio antes de tudo é a arte visionária do autor e diretor Gerald Thomas que aconteceu no Sesc Anchieta em novembro e dezembro de 2017, não é a toa que todo o trabalho era guiado por um tambor, “o tambor que guia a arca do que não é…” Gerald sempre brinca dizendo isso, mas no passado os barcos eram mesmo guiados por um homem que tocava tambor enquanto os outros homens remavam”.

Dilúvio é mais que uma peça de teatro, é o contexto futuro de um situação política, da crise humana e da guerra nas relações devido a discordâncias políticas.

Quando a peça inicia, uma mulher completamente triste, apática, suspensa no ar, uma lua melancólica onde o tempo se esvai. Uma terrível falta de esperanças, a sensação de um corpo cansado.
Este estado corporal é o corpo do Brasileiro, cansado e sem esperanças, onde nada o motiva, esta é a posição ao qual nos encontramos hoje.

Gerald tocava o tambor guiando essa arca é a latente batida de um coração tocada para guiar vidas, e parece contar uma fábula do presente porque o visionário vê como o presente forma o futuro.
Nos primeiros onze minutos de peça, Andre (ator) entra carregando um desenho, e nesta imagem um homem com uma flecha enfiada no peito com seus braços suspensos atravessa o palco. Seria esse desenho uma imagem de alguém que fora atacado? Poderia essa imagem conter a situação do atual candidato que foi atacado com uma faca?
Em seguida duas mulheres lutam, a luta entre os corpos refletem não só a ideia de jogo, mas a luta por ideais, as separações entre as pessoas. Somos quase fantoches - daqueles que detém o poder. mesmo que haja amor entre as pessoas os ideais separam as pessoas. Não somos mais capazes de ouvir o outro.
Uma carroça entra sendo puxada por um humano, esse, um trabalhador que puxa a carroça, e acabou de perder todos os seus direitos, vem sendo escravo há séculos. O Brasil é um país escravagista, e os direitos do trabalhador deixam de ser algo humanamente importante.
Sentado na carroça, o homem Branco que está no poder, quer ser entretido pela guerra dos corpos ou por puro desejo de julgar ou subjugar aquele que lhe serve.
Seremos sempre a plebe que sobe a montanha? No espetáculo existe um refrão que diz “ ...digamos de amaldiçoados, como a plebe subindo a montanha, ah, mas amados mesmo assim, interjeições inimagináveis, antigos filósofos gregos ejaculados junto com seus lugares de origem, sugerindo, quando possível, conquista de reconhecimento  ELE NÃO ESTÁ AQUI, bem audível isso, bem audível mesmo assim não totalmente satisfatório, por causa das intermináveis dúvidas, como por exemplo, QUAL DIÓGENES?”
A plebe de Gerald, assim como em “Fim de Jogo”, ou na relação entre Pozzo e Lucky em “Esperando Godot”, os personagens de Samuel Beckett são seres destruídos pela falta de esperança.
É neste jardim de destroços, de guarda chuvas quebrados, onde as esperanças não são mais apenas esperanças, tentamos crer em alguma mudança possível.
Mas no país onde já tivemos uma ditadura militar, pessoas foram assassinadas, desaparecidas, enforcadas, torturadas, eletrocutadas, jogadas de helicópteros, de aviões, etc.
No país onde corpos de pretos, índios, mulheres, gays, trans, maconheiros, transeuntes, pobres, analfabetos, desdentados, trabalhadores rurais e todos os sujeitos que não estejam no padrão reconhecido como merecedor de dignidade, também, paradoxalmente existem algumas exceções: alguns poucos  brancos intelectuais também entraram pelo cano. Ou na forca.
Esses corpos dependurados como em “O cão que insultava mulheres, Kepler the Dog” (2008), ou em “Bait Man” (2008) onde a abertura são leitmotifs parecidos: humanos, assim como iscas: dependurados.
Os direitos humanos estão sempre presentes na obra deste artista. Nos anos 70, quando ele trabalhava na Anistia Internacional, em Londres, Gerald lutou contra os corpos dependurados como isca em anzóis. Pois! Esse é nosso passado recente, ainda presente, e com muito temor poderá ser o nosso futuro.
A poucos dias uma matéria reportava que muitos Brasileiros negavam o fato de que houve o holocausto, e também negam  que houve ditadura e nas urnas pedem um novo governante com tendências neo fascistas, há um desejo de submissão, e o desejo de destruição, não basta relembrar, é necessário reviver?
No espetáculo Dilúvio (2017) dois corpos representam “torres” que caem uma seguida da outra e se transformam em humanos deformados, sangrando e ao mesmo tempo clamando por seus paus e buracos, quase na boca de cena a área armamentista os cavalos de tróia em seus tanques de guerra, todas essas imagens misturadas a uma terrível falta de esperança e crença no futuro.
Agora o homem do foguetinho não é mais tão importante, era uma espécie de Fake News para as fotos e os futuros apertos de mãos com assassinos Sauditas, ou parcerias suspeitas com a Rússia, e possíveis envenenamos e cartas que se auto-destróem porque são todos espiões Russos, e podem roubar tudo a qualquer momento.
O FaceBook é o mundo Fake do Pequeno garoto que deseja o reconhecimento do seu Pai. Pequeno Garoto FAKE.
Na mesa de tortura Ustra, encontra se corpos vermes, corpos engavetados, corpos mortos, mas porque temos que relembrar a tortura?
Três anos antes de Dilúvio, no congresso Nacional  estava o Candidato a futuro presidente do Brasil que tem como livro de cabeceira O USTRA - cismo, ele oferece seu voto de Impeachment contra a presidente que havia sido torturada pelo Ustra como presente ao torturador e deixa claro em seus depoimentos que é a favor da Tortura e que não houve Golpe Militar no Brasil.

Como artista Gerald Thomas recebe as situações do porvir, ele já foi chamado ao longa da vida de Visionário Apocalíptico e ao longo da sua vida, o “humano” é seu tema no cotidiano sua vida simples e suas preocupações com o mundo refletem o artista inteiro e radical uma vida devota a arte.
Em Dilúvio a dor do corpo, as mazelas humanas cada símbolo contido, tudo se torna muito importante neste momento em que estamos vivendo uma angústia e um medo terrível.
O sangue inocente jorrando e todos os assassinatos, de Mariele, de Moa, do jornalista Jamal Khashoggi, da travesti atacada por cinco homens enquanto a matavam gritavam o nome do… vocês sabem quem!? vocês sabem...  
Na última cena de Dilúvio a atriz entrando com um sonoro samba ecoando sobre nossas cabeças, pedaços de corpo espalhados no chão, e ela pega pedaços de corpos e uma cabeça degolada.
Uma das promessas desde próximo governo é acabar com o samba, e com as Ongs e com tudo que seja arte. Porque artistas para esses homens artistas são vagabundos. Segundo eles mamamos nas tetas do Governo. Agora uma vaca sem leite, o grande leitão de ouro mandou mudar a retórica, e arte para que mesmo? me digam para que?
Na internet fotos dos eleitores dele vocês sabem quem... vestidos com a camiseta do ex presidente Lula “degolado”. Eu não sou petista desde o história da cueca de dinheiro no aeroporto, mas nada disso faz sentido. A imagem do ser humano desolado e em silêncio, estaremos contando as luas todos os dias... todos nós contando os dias para ver alguma mudança possível.

A Luta selvagem nas redes sociais, a tortura mental, e a afronta ao diferente não dá pra esquecer a experiência do público, o riso nervoso e o choro da plateia. Muitas pessoas saiam do teatro chorando todos os dias.

O artista apresenta o invisível aos olhos, ou o mundo dos espíritos. Assim como Bispo do Rosário, ou Moacir Soares Farias, assim como grandes mestres visionários a frase de Gerald Thomas explica bem o que estamos vivendo: “Esperança era sua última esperança,mas mesmo assim baixo demais para o ouvido dos mortais. E outras vezes imaginar um outro extremo tão duro de imaginar

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