sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Ainda não é o fim?


Ainda não é o fim?

Na sexta feira passada, saí para uma caminhada longa pela cidade, até chegar em Times Square, e parei no meio daquela enorme praça e fiquei olhando aquelas pessoas andando perdidas, achadas, se achando em ondas, se dando as mãos pra nada ou pra não se perderem ainda mais e,  milhares delas, de “todos os lugares do mundo”, sob as luzes Leds - com imagens e propagandas vendendo - , e pensei na luta de um homem para que esse país seja o pais de todos.

Voltei para casa com passos certos sobre o que é essa noção de “LIBERDADE".  A vida é uma "eterna novidade" como diria Alberto Caieiras no seu poema “O Cancioneiro”. Caieira era um dos codinomes de Fernando Pessoa que usava Caieiras para ver a vida sob um ponto de vista mais doce: “Amar é a eterna inocência".  Será mesmo uma eterna novidade? Será mesmo uma eterna inocência o amar? Ou uma sequência de desencantos? Caieiras descreve a vida por um ponto de vista romântico e vê na natureza os maiores encantamentos que um homem pode ter. A vida no passado, tão dura e cheia de guerras, grandes batalhas, teria sido ela apenas uma passagem repetitiva e exaustiva onde essas guerras estavam nos colocando sempre por um fio? É tudo tão rápido, transbordando de notícias como num flash que sequer absorvemos o crash.


CONFUSAO e DUVIDAS


Das "bad news" e das "fake news" ficamos com a enorme dúvida: como sobreviver no mundo das notícias repentinas e como não afundar de medo diante de tudo que serve apenas para causar confusão e dúvidas e para amedrontar e desapontar uma nação? Todos os dias vem uma nova notícia para renovar as novidades de um mundo onde tudo é a venda de uma “nova”.  Quem compra essa “novidade"? O tempo dribla a realidade. Entende-se que as piores novidades são catastróficas e que por elas você não esperava.

Essa angústia toda  te leva a alguém especial, pessoas especiais que nos fazem ficar de boca aberta, que nos fazem repensar a nossa existências.  Assim foi com Aretha Franklin …. e vocês sabem né!!! Aretha Franklin ela é… ela é… é isso… vocês sabem muito bem o que isso significa…

Sua despedida foi uma grande festa.
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De alguma forma Deus escolheu essas últimas semanas para levar gente muito importante. Não foram dias fáceis, alguns dias depois o Gerald estava recebendo a notícia que o diretor de redação da Folha de S.Paulo Otávio Frias Filho havia falecido, sem acreditar na notícia e arrasado, seguido de vários dias tristes e introspectivo, em silêncio e sentindo o vazio, aparece na TV parando um tratamento médico contra um câncer John McCain e já no dia seguinte à notícia de seu falecimento, ele chocado nos dois dias seguidos caiu em uma tristeza enorme e por todos esses dias esse LUTO se estende, e seus olhos sempre baixos. Assim seguiu se a semana toda, e seu luto está apenas começando.
Esse homem era John McCain, literalmente um homem forjado a ferro e fogo, um conservador considerado " rebelde" dentro de seu próprio partido, foi torturado, foi prisioneiro de guerra no Vietnam, conta com uma história absurda de força e coragem elutou contra tortura em todos os fóruns internacionais que lidavam com os direitos humanos. Foi Presidente do Comitê de Assuntos Indígenas e isso não é pouco. São pouco os homens brancos capazes de entender a verdade da História de um povo que fora dizimado, devolver terras aos seus verdadeiros donos é uma luta incansável. Eu não fazia ideia de quem era John McCain, e ao pesquisar sua vida fui me apaixonando por esse homem, que agora é parte da história de um povo, de uma nação, e que a cada passo foi um trabalhador fiel, jamais da burocracia ou de seu partido mas sim da sua consciência, da sua vontade de ver o mundo livre, de ver os povos gozando de liberdade.
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Na quarta feira, passamos a manhã assistindo seu emocionante funeral, e as homenagens de todos os lugares dos EUA e acompanhando as dedicatórias daqueles que viviam mais próximos à família.
Ao longo do luto e a emoção de entender tudo que esse homem deixou. Eu não preciso ser americana para entender o valor deste homem  para a humanidade.

Na Times Square no meio daquele enorme cruzamento pessoas de “todos os lugares do mundo”, e os Leds Lights com imagens de propagandas vendendo, sempre vendendo. A mistura de tanta gente diferente, de várias línguas vários sons  misturados e transformando tudo em um canto sonoro, em meio ao barulho dos carros.
Eu pensei na luta de um homem para que esse país seja de todos, voltei para casa com passos mais rápidos, o sol já estava baixo, e meu pensamento estava na liberdade, de toda pessoa estrangeira de todo cidadão.  LIBERDADE o significado de estar aqui e de entender que um país não se faz sem luta, sem que alguém esteja no combate na busca incessante para o bem de toda nação, quem somos nós diante de pessoas tão importantes?
Ao chegar em casa, meu telefone tocou, estava mudo, então uma mensagem dizia não ter boas notícias, e uma novidade veio era a morte de uma Prima, uma pessoa especial, considerada curandeira, que conhecia à finco as ervas do cerrado, que cultiva ervas para curar pessoas, os dois estavam partindo por causa de um câncer terrível. A vida e sua brevidade, esse tempo linha, esse tempo vento...
Meu luto agora é enorme, eu fiquei chocada, a brevidade da vida, esse sangue que corre nas veias, essa dor infinita... e agora estamos os dois de luto, esse luto sanguíneo e essa luta para sobreviver a morte de pessoas tão incomuns e especiais.
Hoje é sexta feira, a TV mostra os últimos momentos de despedida do Senador John McCain, eu não tenho notícias da minha família, mas aqui dentro do meu coração, estou me despedindo de parte da minha história que só ela sabia contar, estou me despedindo da mulher que falava da minha mãe e que contava história de nossa família. Hoje já não sabemos mais o que dizer, estamos apenas escutando o som da dor.  Gerald escuta o funeral, e ainda parece não acreditar, seus olhos continuam marejados, e os meus também, e choramos e ele balança a cabeça de um lado para o olho e olha incrédulo para a TV. Eu me sento ao fundo e escrevo como um grito de dor que sai da minha boca.
Porque a morte muda a história, porque a morte nos faz repensar a existência?
A morte é essa dor tremenda de perder não apenas um homem ou uma mulher, os filhos ou pais e mães, seu cachorro, ou seu companheiro, mas tudo que nos é importante e insubstituível.
Não somos formigas e mesmo as formigas lutam para manter a vida de suas rainhas.
Não existe comparação a perda de pessoas tão importantes para a humanidade, ou uma pessoa do mesmo sangue, o que muda é a falta, o não ter mais como, ou o que essas pessoas significam para o mundo, e tudo que elas construíram.
A esperança de que a partir de agora possamos entender que não apenas algumas pessoas são únicas, especiais, como mudam o destino da humanidade, e desperta em todos nós o sentido da vida, o sentido de crer na mudança, na ética, e no respeito aos povos.

De luto, na luta, todos os dias... tentando e errando, mas não estamos errando melhor como diria Beckett ou o Gerald, quando após uma briga ou um erro meu, ou um erro nosso superamos a crise e percebemos no erro uma possibilidade de melhorar, para errar de novo, errar melhor.  

Mas não estamos errando melhor quando se trata de Arte no Brasil, ou da memória do povo. Com a Morte anunciada da nossa memória. O museu Nacional do Rio de Janeiro pegou fogo e tudo foi destruído, estamos de luto, estamos sufocados com todas as cinzas das memórias Brasileiras, do Povo Português, da Nação Indígena, e de todos artefatos, tudo… que se foi.: "Enquanto isso eu queimo, vocês queimam, queimam e entra em vossos pulmões para virar, digamos assim…TUDO vira uma enorme fumaça de rancor cancerígeno." Eu queimo Basco. (Eu queimo basco. Gerald Thomas)
Errar melhor. Para que essa sensação de não ter tido a oportunidade de mais um encontro, essa sensação de fio na navalha, de último minuto e depois nunca mais.
Sentir que a vida pode ser melhor. Valorizar o que está aqui e que a morte nos sirva de lição para mudar, transformar essa nossa dura realidade. Estamos de LUTO. Mas nunca é o fim… até que um dia será o fim, mas aí você não estará lendo isso.
Incêndio no Museu Nacional da UFRJ, na Quinta da Boa Vista





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