terça-feira, 6 de março de 2018

O "Dilúvio" De Gerald Thomas

DILÚVIO 

AUTORIA  DIREÇÃO E CENÁRIO   GERALD THOMAS



SESC CONSOLAÇÃO 2017


"Um menino e seu barco ancoram no Brasil para construir sua nova nau, repleta de artistas, saltimbancos, e entre bichos e carroças, suas rodas e manivelas, entre cordas e pipocas, nasce o pirata e o mostro que ataca sua nau."
Eram dias de muito vento e chuva, nas ruas pessoas com seus guarda chuvas, e suas capas tentam se proteger de um vento tão forte e intenso, mas seus corpos frágeis e desvestidos sofrem ao enfrentar tamanha tempestade.
Todos se refugiam dentro de um barco guiado por um tocador de tambor cheio de poderes incríveis, homens fortes soltam as velas, enquanto um pirata cheio de sentimentos que ainda não sabemos quais, surge nesta tempestade para roubar o barco, hora pirata, hora mostro das águas revoltosas, torna se quase dono dos corpos pendurados, corpos que formam o calabouço "cala sua boca" desse barco, onde escravos o carregam e o servem,  dançam e são também seu entretenimento.
Esse menino olha para essa história e pensa que ela não é mais sua e então entra dentro de um barco japonês para sair apenas no último dia."

O tocador de tambor dentro da nau.

O tamanho de uma história não é formada por quantos dias ela se torna historia, mas sim pelos acontecimentos. E nesses dias de dilúvio, foram experiências que olhando de fora ate parece uma nova peça de teatro,  dentro da peça "Diluvio" mas dilúvio é linda e emocionante se torna uma nova historia sobre a VIDA DAS PESSOAS ENVOLVIDAS neste Dilúvio dentro da nau do Sesc Consolação.
Quando um artista trabalha em tempo reduzido, e com a missão de entregar em tempo recorde uma obra do tamanho de dilúvio não se sabe o que vem pela frente, a obra de Gerald é conhecida por sua estética, seus jogos psicológicos, por sua escrita em tempo real, ao longo de sua montagem, ele nunca trás pronto, ele cria, e cria a partir do que vê, ou do que ele tem a oferecer de sí mesmo, e isso significa trabalho em crise, corpos em crise, menstruação, ovulação e nascimento em geral envolve sangue... isso mesmo aquilo que rege todas as mulheres todos os meses de suas vidas. "action writing"

aquarela em canson Adriane Gomes 2010
As águas permeiam as emoções, os sentimentos, e os sonhos, foi assim que a minha vida se encontrou com a vida de Gerald e nos reencontramos nesse Dilúvio. Era 2010 e eu estava enlouquecida com o meu mestrado quando por acaso um Diretor famoso curtiu um post colocado no facebook, era um post sobre a Rainha de copas e suas 7 primas invejosas meu processo de Mestrado sobre Arte e Tecnologia, eu estava fazendo os primeiros desenhos e era tudo em aquarela, e ele gostava do que eu pintava. E começamos a conversar e a escrever, e a falar pelo skype, os assuntos? Arte. Arte. e Arte... e eu fui conhecer mais além da única peça que eu havia assistido: Um circo de Rins e Fígados com o Nanini ou sobre as matérias da Bunda no Teatro Municipal, quando fez Tristão e Isolda, ou sobre a destruição das Torres Gêmeas no Fantástico, e foi assim que eu entrei de cabeça nos desenhos, nos vídeos, nas entrevistas e até que um dia eu comecei a sonhar e a gostar da voz e de tudo que eu aprendia nos emails e nas conversas.

 Foi então que tive meu primeiro sonho com esse homem que me inspirava a criar. O sonho: "Estou em um quarto de hotel, e uma das paredes escorre água, uma banheira transborda escorre água, a água vaza e inunda todo o quarto, Gerald aparece no sonho e me diz que a peça acabou e que é hora de partir." acordei com o coração acelerado e escrevi um e-mail contando aquele sonho, isso era 2010 e o tempo passou, os anos se foram e tudo mudou. Muitas coisas aconteceram com todos nós desde aqueles anos. Mas houve também o nosso encontro e houve o momento em que eu me desnudei para lamber o seu cú, e beijar todo seu corpo e deixar que todo meu cheiro tomasse aquele quarto de hotel, não estávamos sozinhos, e eu também não se sentia totalmente a vontade, mas precisávamos consumar algo que jamais nos esqueceríamos, mesmo que na minha cabeça, era preciso ter uma experiencia só nós dois, sem nada até mesmo sem Baco.

Agora estamos sem 2017  havíamos nos afastado de novo, mas mais uma vez eu sonhei, e nos encontrávamos e nos abraçávamos e eu chorava dizendo que sentia saudades. Resolvi escrever, e ele me convidou para um café, e eu fui as 22 horas, hora que meu trabalho acabava, e ao abrir a porta, eu de novo chorei e nos abraçamos. E minutos depois estamos nús  na cama, eu sangrava e eu era arredia como uma égua selvagem, "uma mulher selvagem, é isso que eu sou" um peixe fora da água, meu corpo não era tocado daquele jeito a muito tempo, e me foder, me comer, e me sentir como realmente eu sou, com toda minha força e fragilidade não era algo fácil, mas eu ainda o amava e ele começou a me ver, me sentir... e eu me sentia amada, quantas mulheres podem se sentir amadas, e trepar e gozar na sua boca como não houvesse amanha, e trepar todos os dias até que seu corpo jorre todas as dores e tristezas guardadas. Foram momentos únicos que eu nunca havia sentido até aquele dia. Eu merecia aquele homem me comendo e me amando loucamente e sentindo minha falta e gostando do meu cheiro, e lambendo cada pedaço de mim. E choramos juntos e rimos juntos e de alguma forma fui acalmando e me abrindo para o Dilúvio de emoções.

Antes de falar da obra Dilúvio é necessário falar do mundo hoje, da guerra de poderes, dos novos ditadores, com seus misseis, do presidente da maior potência do mundo e do circo de horrores que se tem formado desde então, é necessessário falar sobre a guerra da Síria, ou da guerra de informações ou das Fake News, e dos telefonemas mentirosos, ou das pessoas ardilosas que não só roubam como matam os seus próprios. É nesse cenário que nasce dilúvio, e não de auto biografias como muitos descrevem eu seus textos. mas sim de um realidade cruel e ordinária, onde Gerald busca uma saída ou faz poesias com os corpos das suas atrizes, poesias com corpos de mulheres. Sim mulheres... as mulheres. O processo de trabalho foi muito rápido e logo fui convidada para ver um ensaio, a minha primeira percepção sobre a montagem:

Foi no primeiro ensaio de Dilúvio, e ainda o começo de tudo, e tudo me emocionou demais, eu me sentia como aquelas crianças que corriam gritando "pai" era a Síria gritando dentro de Gerald, eu me sentia aqueles corpos, eu me sentia a obra de arte que sangra, obra de arte viva, mas ainda não existia a visão completa desse barco, o pirata começava a aparecer mas ainda estava disfarçado, e ele ou ela ainda não haviam se transformado, apesar de que as pistas surgiam, mas para haver algo com muito "poder" deve se dar "poder" a ele (o processo), e assim tudo vai se criando.

Tenho uma teoria sobre o trabalho do diretor criador e a relação de Caráter, estresse, corpo em risco, e a fragilidade da alma. Tudo isso nos mostra quem realmente somos, e como observadores vamos percebendo a mutação dos artistas, e como as pessoas reagem a todas as mudanças.
 Foi nesta toada que fui vendo a naus de Gerald finalmente entrar em alto mar, entre as emoções de uma obra política, entre ficção e realidade, entre passado e futuro, entre as pessoas que junto com ele contam suas historias, fui reconhecendo os segredos e os amores, os olhares entre as atrizes, e os pactos se formando e como é brilhante tudo isso.

O homem do tambor é o ser magico, é o Guia que leva todos ao transe, e o teatro é esse transe onde todos transam e se molhar para encontrar o êxtase, a peça tem esse poder de mutação onde as lagrimas brotam sem que a gente pense. Lidar com uma nau é enfrentar a água que permeia as emoções: lá estava eu assistindo esse processo, e eu me lembro de coisas que eu sentia, eu sentia medo, eu sentia aquele vento bater em mim, sentia vontade de fugir, era aquela criança na guerra, a minha guerra interna, eu não sabia para onde, "pai" eu o sentia dentro de mim, eu queria tanto o meu pai... era tudo a minha volta, era aquele salto no vazio, eu via o mar, eu sempre via as atrizes sendo jogadas no mar. Em alto mar.

Era uma vez um menino, era uma vez um vento, tão forte, que levava todos os guarda chuvas... era uma vez um menino e seu barquinho... era uma vez uma historia onde um presidente brinca com seus bonecos de verdade, ele também é um monstro, e somos todos tão frágeis, mas ele tem foguetinhos de verdade e suas historias de mentira, parecem verdade.

Naqueles dias de Dilúvio telefonemas FAKES, segredos de pipocas jogadas com ódio, eu ví cenas do alto de onde via se egos e cenas tão lindas, o que diria Beckett se estivesse lá no alto olhando comigo o que eu via!? há era sobre os gênios, poucos encontram verdadeiros gênios na vida e poucos são chamados de gênio em vida. Mas olha esse cenário, escuta essa trilha e veja essa luz, eu me emocionava, e lágrimas brotavam de dentro de mim, como esse Dilúvio é lindo!

Pássaros negros, voam sob nossas cabeças, telefones tocam, mulheres olham, andam e falam, somos seduzidos o tempo todo.
Se você ao ver Dilúvio  se sentir sozinho, entre as fileiras do teatro, entenda a nossa dor, e muitos segredos que só nos contam quando olhamos uma obra de arte, nas gavetas se guardam corpos, e nos corpos se escrevem historias e cicatrizes.

Dilúvio é esse barco navegando em alto mar onde cada dia o céu te mostra algo novo, você percebe o que você vê?  eu ví meu amor crescer a medida que Dilúvio nascia, e sangrava, e vazando sangue, ainda cheia de esperança, porque: "esperança era sua última esperança mas baixo demais para o ouvido dos mortais."
E foi assim que eu entendi, o seu corpo é quase morte nesta guerra interna de sobrevivência, onde muros separam homens, onde o ego tenta trucidar um obra, mas não mata, porque a vida é muito forte, onde o ser humano ao receber poder tende a aniquilar seus próximos, onde a exaustão revela o bom coração, e o corpo em risco beneficia a força e a estima.

Quando Gerald expões seus corpos, ele expõe a sí mesmo, ele expõe seus dias de chuva, ele puxa esse barco desgovernado em jardins de guarda chuva quebrados e aprende a não dar valor ao que não tem valor algum. Gerald é transcendente, ele é como um cavalo selvagem porem doce e amável, Gerald não  acredita na realidade do rifle, e sabe que notícias falsas surgem a todo momento, e que possíveis guerra, ou guerras que nunca se findam podem mudar o seu dia mas Gerald em Dilúvio usou toda a "importância de ser fiel ao seu palco".






todas as fotos foram retiradas do Blog do Artista link abaixo
http://geraldthomas.net/drawings_paintings.html




https://geraldthomasblog.wordpress.com/2017/11/13/diluvio-short-video-film/

http://geraldthomas.net/PP_Dil%C3%BAvio-SP(final).html











Diluir... 

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