segunda-feira, 15 de abril de 2013

DOs que søbreviveram: Ary Brandi fala søbre suas lembranças de føtøgrafia e cømø ø teatrø mudøu sua vida.!

Retratos do Teatro
Estes dias pensando no Teatro me veio a lembrança de quando fotografava o Plínio Marcos com a sua varinha ou vendendo livros e fazendo o Teatro que questionava. Lembrei do meu primeiro trauma de infância quando minha Mãe me colocava na cama pra interpretar meninos tristes ou alegres e quando a Professora do Pedro ll em Belo Horizonte queria eu usasse uma roupa de papel crepom marrom pra interpretar uma árvore: Eu gritava pela casa que jamais iria me vestir de mulherzinha usando fantasia de palhaço e logo depois me apaixonava pelo Teatro ao assistir a primeira peça de minha vida e no palco do Teatro Municipal de BH meus primos João Etienne Filho e Gastão Etienne meus Padrinhos Maia e Nini contando a história de um menino travesso chamado Jesus...
Lembrei do Chiquinho Brandão irreverente que apressado com o andar da moto deixava a namorada na porta do Teatro. Da querida Ruth Escobar trazendo as maiores peças de Teatro inventando inovando e derrubando as paredes de seu Teatro pra que desta maneira pudesse fazer um cemitério de automóveis ou dando ouvidos a Labordas da vida que inventavam histórias sobre todas as pessoas de teatro que eram da Cia ou informantes do SNI. Uma época de muitas neuras e muitas loucuras quando existia uma oposição com ética e o surgimento de muitos metalúrgicos que todos creditam arauto da moralidade pública. Fico lembrando do Mambembe do Soffredini que usava o Circo Teatro e que a nossa esquerda chamava de alienado. Muitas vezes fotografei os entrevistados e as pesquisas que faziam as peças de teatro fora de época e que depois eram copiados por muitos outros grupos. Como os belos textos de Zé de Abreu: Bella Cia ou Foi bom meu bem? As vezes usavam meu nome no texto pra dizer que eu bebia quilos e quilos de maconha e fumava LSD ou era meu pequeno macoleiro de Nuri Rizzo um dos maiores atores do Brasil como tantos outros que eu fotografei como Wanderley Martins, Calixto de Inhamuns, Genésio de Barros, Ednaldo Freire, Maria do Carmo Soares, Rosi Campos, Berenice Raulino...
Lembro dos Dzi Croquetes homens belos travestidos de belos homens fazendo Teatro descobrindo / encobrindo a nossa sexualidade masculina de uma maneira divertida e intensa...As vezes eu fotografava o que a gente chamava de Teatrão como se fosse pecado fazer aquele teatro como se fosse um teatro de segunda e quando eu via o Costinha interpretando e fazendo a platéia cair da cadeira de tanto rir...eu pensava: Teatrão? Eu achava o máximo ver os grandes atores em cena como Paulo Goulart Nicete Bruno Marília Pera Marcos Nanini Irene Ravache Beneh Mendes Ney Latorraca, Sérgio Mamberti, Laerte Morrone, Consuelo Leandro...Lembro muito da bela Eliane Giardini cantando Cuitelinho (na minha opinião a gravação mais linda desta música) meu amigo Paulo Betti e Adilson de Barros na Carreira do Divino trazendo o interior pra dentro de SumPaulo...ou quando trouxemos Beiço de Estrada pra São Paulo e desta maneira Marcélia Cartaxo sair de nossa casa pra ganhar o prêmio de melhor atriz em A Hora da Estrela em Berlim...Fico lembrando do Tio Gerald com suas peças engraçadas belamente iluminadas por Wagner Pinto aqui em New York ou Viena em 6 anos que fotografei Bete Coelho nos cenários deslumbrantes de Daniela Thomas com tudo em preto e branco e muita muita fumaça pra descortinar um novo teatro que eu ainda não conhecia atras de tantos tules....
Redescobri o Teatro em 1970 quando perdido na Bela Vista fui convidado pelo Fernando pra entrar no teatro e assistir a peça em cartaz: Eu não tenho dinheiro pra pagar. E ele me disse: Estou te convidando pra entrar é de graça, pode sentar se lá na frente e fui com a maior das boas intenções ficar chocado abismado apaixonado quando no final da peça Sonia Braga com os seios de fora me entrega uma flor...Naquele momento larguei o cursinho que eu fazia no Objetivo sai de casa e quis ser hippie...quis viver o sonho americano e no Brasil que havia uma guerra muito pior muito e muito mais sacana que a guerra do Vietnam...Era a guerra dos Milicos contra a gente...Era a Ditadura Militar contra a gente, sem nos respeitar e matando quem estivesse em seu caminho e hoje fogem sem coragem de assumir seus erros e crimes...
...Pirei no Hair e nunca mais voltei a escola, queria viver aquela vida queria ser fotógrafo e queria trabalhar no teatro como fotógrafo...Logo depois conheci a peça Gracias Senhor do Oficina onde eu ficava vendendo o Bondinho todas as noites no Ruth Escobar e as vezes ficava conversando com a Ester Góis grávida do Ariel...e vendo as belas meninas que iam assistir a peça que mais fez minha cabeça depois do Hair. Gracias Senhor era muito mais brasileira muito mais intensa muito mais teatro...Outras vezes a gente ficava assustado quando o CCC invadia o Teatro e agredia os atores doutras vezes eu via militares matando pessoas na Rua Manoel Dutra esquina com Rui Barbosa e eu viajando de LSD não acreditava no que meus olhos viam pois as pessoas mortas sumiam rápidamente e isto quando eu era preso e levado a todas as delegacia de Sampa pra averiguação...na verdade pra ver se o Dops não estava atrás de mim... Lembro das quantas vezes fui obrigado por ter carro neste época, de buscar e levar os Censores da Policia Federal pra fazer censura das peças do Mambembe e a Rosi me mandava calar a boca e não ficar provocando os censores com as minhas ironias, pois ela sabia que eu sempre tive problemas com as ôtoridades...Lembro de Sonia Carlos Magno que me colocava pra fotografar peças de Teatrão e seu tio Pascoal Carlos Magno que brincava comigo por eu ser rebelde...Lembro de ter fotografado e me apaixonado perdidamente por Norma Benguell em Vestido de Noiva no Rio de Janeiro e no último dia da peça aparece por lá o Nelson Rodrigues que ficou abraçado a Norma sendo afetivo com ela e eu de ciúmes e com raiva dele porque havia publicado um texto no jornal metendo o pau nos maconheiros e sendo eu idiota e infantil não os fotografei juntos naquele momento único e creio que eu era o único fotógrafo neste momento, presente em Vestido de Noiva...
Lembro do primeiro Encontro Nacional de Atores e Técnicos de Teatro em Canela em 1984 quando ali fotografei Grande Otello com Renato Consorte e o ético José de Abreu defensor do teatro e o João das Neves que de tão comunista não tomava Coca Cola nem morto e Dulce Miniz e tantos outros preocupados com o destino do Teatro....E logo depois fiz a melhor viagem de teatro que eu fiz na vida com o Grupo União e Olho Vivo do meu amigo e meu advogado Idibal Piveta que me contava coisas de Cuba quando eu dizia a ele que no meu primeiro passaporte esta escrito com letras garrafais: Proibido Visto Para Cuba e países com os quais o Brasil não mantem relações diplomáticas...
Não fui preso no Dops como meus 2 irmãos o foram e ameaçados de morte várias vezes em BH, fui preso comum (existe preso comum?) e por causa disto e por causa do mundo que o Plínio Marcos retratava é que eu gostava de fotografa-lo mas nunca conversei com ele sobre nada. Era somente foto e o registro de um dos meus ídolos marginal como tanto outros que depois vim a ter na vida...cada um em sua época e de sua maneira...E quero crer que nenhum deles iria aceitar o que acontece hoje no Brasil sem oposição sem esquerda e sem ética....Que o Brasil seja salvo dos que querem fazer da Lei Rouanet um dirigismo cultural e que o Teatro seja matéria obrigatória nas Escolas do Brasil e isto sim será formação de público.
muita paz
Ary Brandi

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