segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Obama, Katt Williams e um Congresso sem Rins ou Fígados

Folha de S Paulo online: Sep 9, 2011

Obama, Katt Williams e um Congresso sem Rins ou

Fígados

GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
DC- Alô? É da Casa Branca?
CB- Sim.
DC- Aqui quem fala é o Dick Cheney.
CB- Quem?
DC- Dick Cheney. Aquele que estava em cadeira de rodas na inauguração do seu presidente. Acabo de lançar um livro , “in my Time”, relatando o meu desconforto com meus colegas quando eu era Vice Presidente.
CB- Ah….
DC- Posso falar com ele?
CB- Ele quem?
DC- Presidente Obama. Já que em meu livro de memórias políticas eu detono meu ex-amigo George W Bush, Condoleezza Rice, Colin Powell, George Tenet e quase….todos os….
preciso de novos amigos, entende?
CB-Senhor…
DC-Preciso de um emprego, entende?
CB- Senhor!
DC- Estão pra revelar coisas horrendas a meu respeito e meu coração esta péssimo…
CB- Senhor! Temos uma fila enorme aqui fora e no telefone. São milhões querendo emprego.
O nosso acessor aqui o aconselha a procurar
um produtor da Broadway…
DC- Como?
CB-Quem sabe ele não monta a ultima versão do “All that Jazz” com o senhor?
DC-????
CB-Ou então, ligue pro Newt Gingrich e se inscrevam no “America’s got NO Talent”.Quem sabe o Pierce Morgan o escolha como vencedor de malabarismos entre lobistas e grupos de interesse?
(barulho de quem desliga o fone na cara)
Cheney - Hello!!! Nossa, que gente rude. Não saberiam invadir o Iraque. Nem forjar Armas de destruição em massa como eu fui capaz. Esses Democratas não sabem otimizar politicamente a passagem de um furacão como Irene, nem o Katia, enfim…..é a vida.
(e desliga meio cabisbaixo)
Nem tudo se acalmou depois da passagem do furacao Irene aqui. Pode ser o colapso do sistema. “Multiple organ failure” e os “Founding Fathers” agora olham pasmos para os seus “Os Estados Dês-Unidos da Mente”, que enfrentam sua pior crise, justamente uma semana antes do décimo aniversario do 11 de setembro.
Mas, ao mesmo tempo, essa crise nos revela uma transparência dessa porcalhada chamada “política”. Sim, essa palavra tomou outra conotação depois de tantas trombadas e trapalhadas. Política agora virou um Circo. Um circo de órgãos podres. “Um Circo de Rins SEM Fígados”.
Mais de 10 estados precisam de dinheiro federal mas ele não existe. O “caixa eletrônico metafórico” aqui foi explodido (não por bandidos, como em São Paulo) , mas pelos egos fulminantemente absurdos de um Congresso que não consegue se entender. Democratas e Republicanos não são mais levados a serio por nós que os elegemos e pagamos seus salários.
Nunca foi assim tão doloroso ver uma “political agenda” tão partida, tão partidária, tão dividida, tão ególatra. Pois é.
O que esperávamos do Presidente Obama? Esperávamos que ele resolvesse TODOS os problemas herdados das merdas cometidas pelas administrações anteriores?
Alem do mais, onde já se ouviu falar em “presidentes criando empregos”? Ou “presidentes curandeiros”? Como assim? Do que estão falando? O entrepeneur Mark Cuban (53 anos, que se elevou ao “American Dream” vendendo tudo, qualquer coisa, de porta em porta até se tornar um bilionário, dono do time vencedor de Basketball (os Dallas Mavericks)e do estúdio de TV e cinema “Magnolia Pictures”, entre outras coisas. Mark é direto e polemico (ah, como amo essa palavra) : “política não tem que politicar e sim mostrar caminhos novos pra jovens que tenham idéias novas e criativas que possam se realizar”. Cuban, ele próprio investe
seu dinheiro em jovens e anônimos projetos.
Temos que parar – literalmente – de ouvir frases e clichês retóricos que não levam a nada. Cabe a industria e a iniciativa privada criarem empregos. Mas o Presidente Obama esta sendo empurrado pro Grand Canyon porque, por medo
ou má acessória dos seus, acabou caindo nessa bizarra posição.
Sim, sou um Obama-fanatico. Admito. Mas fanático por que? Por quem? Percebo, ao escrever isso, que cometo o mesmo erro do extremismo político que faz com que os EUA vire esse pobre e podre circo. Fiz parte da sua campanha em 2008 e, certamente, já estou fazendo parte de sua campanha de reeleição.
Sim, o seu health care plan daria dignidade a 40 milhões de americanos que não tem acesso a saúde publica. Mas, claro, isso não esta nos interesses das seguradoras (como a minha, HIP) e nem das HMOs. Ah sim! Até o trilhardario Warren Buffet saiu em defesa de impostos mais altos pros ricos, provando que ele (que acaba de investir 5 bilhoes de US$ no BankAmerica), paga menos pra Receita Federal (IRS) do que a sua secretaria. Mas, claro. Taxar os Trumps da vida causa problemas, não é? Causa.
Sim, tenho orgulho do meu Obama, mesmo quando ele passa uma semana inteira jogando golfe em Martha’s Vineyard quando um terremoto e um furacao já haviam devastado parte da costa leste dos EUA.
Imagine só!
Se ivertessemos o quadro, como estaríamos se John McCain tivesse sido eleito presidente? Bem, ao meu ver, a escolha da pateta Sarah Palin como vice, foi um plano muito bem arquitetado pra que os Republicanos “NAO” fossem reeleitos. Sabiam do abacaxi que os esperava no futuro e preferiam que a bomba explodisse num governo administrado por democratas. Sabiam que o pais entraria num labirinto bipolar – mais ainda com um presidente negro no poder – e se sairiam bem nas eleições seguintes, não fosse a ruptura inacreditável do Partido Republicano. Riam se quiserem,mas McCain (hoje) esta a esquerda de seu partido e Obama a direita do seu. O encontro
Ou casamento talvez se de em breve, dependendo do estado nessa união que já aprovou o casamento gay.
O “American Dream”, na definição de Donald Trump, o imbecil que só tem duas palavras no seu vocabulário: “perdedor e vencedor”, é um. A de Herny Kissinger ou Arnie Schwarzie é outra. Pessoalmente – já que ando sempre na contra mão – escolho a do comediante negro (que afirma ser neto de escravos) Katt Williams, recem envolvido numa polemica doida (ah, como amo essa palavra), insultando mexicanos e mexicanos-americanos num de seus shows recentes: – “Não vou pedir desculpas. Mas, precisamos nos consultar e reconsiderar nossos valores. Quais são nossos valores? Alguém ainda sabe? Amo estrangeiros. Mas amo , mais ainda, a America. Essa America que engole e cospe tudo tantas vezes por dia, mas sempre se inova”.
Como tirar sua razão?
A auto estima, auto imagem e identidade de uma nação não dependem mais do que vêem quando se olham no espelho. Depende que quanto possuem na conta bancaria e na carteira. Uma pintura de Picasso pode parecer horrível para um fauvista. E uma pintura de Pollock pode parecer maravilhosa para alguém que sofre do síndrome do colo irritável. A dialética aqui esta ganhando novos significados. Não sei ainda quais são. Ninguém sabe, alem dos cinturões de Washington DC (iniciais de Dick Cheney), onde
o Capitólio virou um kindergarden de dementes.
Mas uma coisa posso dizer: os Americanos estão perdendo a paciência e buscam suas fronteiras mentais e concretas e não mais ideológicas.
-Washington DC pensa diferente-
O teatro nao é politica, mas existe mais teatro hoje na politica do que politica propriamente. A situacao dramatica e dramaturgica do momento beira a uma tragedicomedia do tipo Brancaleone.
A America é volatil, flexivel, modulavel, temperamental, subjetiva, objetivamente compulsiva, compulsivamente obsessiva, obsessivamente subjetiva e, com todos esses atributos, perde a memória a cada dia.
O que mais me diverte é quando a direita se estraçalha, especialmente a Republicana. Daqui a pouco, a “Tea Party” estara distribuindo DVDs do filme “Triunfo da Vontade” o filme-mor do Terceiro Reich, de Leni Riefenstahl. Nada realmente faz sentido nessa moral perversa desse milênio que entrou aqui nos EUA, desde o governo de “W” até os dias de hoje. Nada. Nem as gargantas profundas existem mais, pra nos titilarem as axilas enquanto testemunhavamos um governo (o de Nixon) sendo desmontado, desmantelado, peça por peça, até sua renuncia.
“Deep Throat” era o informante de Bob Woodward e Carl Bernstein do Washington Post. Os dois jornalistas – com a ajuda do informante Deep Throat – acabaram com a vida de Nixon ao revelarem o escândalo de Watergate. Mas Deep Throat era tambem um filme porno com Linda Lovelace, engolindo tudo, até o fim.
Hoje, os Deep Throats somos nós. Nos engolimos TUDO. Hoje, deep throats sao os desempregados, a propria administracao Obama, as vitimas do subprime, das estatisticas e o abacaxi deixados pelas anteriores administrações. E não existe garganta profunda que engula um abacaxi (mesmo os do Hawaii) com casca e tudo.
Se as nossas gargantas rasas ainda tivessem a coragem de ir atras daqueles que causaram o colapso economico, como Fannie Mae e Freddie Mac, a AIG, a Goldman Sachs, Merry Lynch e de todos os bancosufa! Estou exausto. Perai que preciso ver se ainda tenho uma barrinha de cereais na minha “Go Bag”.
Nada. Nao tenho mais nada. Mas poderiamos ter mais ação, como nos action movies. Cadê o Coliseu? Não existe um em Washington. Mas o Kennedy Center ou o Smithonian poderiam patrocinar duelos diários entre Romney ou Rick Perry, o Governador do Texas concorrente a presidência pelos Republicanos que chegou ao cumulo do ridículo ao acusar o diretor do Fed, Ben Benanke, de “traição”. Pela Constituição Americana, traição pode levar a morte pois o significado real da palavra significa, entre outras coisas, alguém que esta (intencionalmente) passando documentossecretos para um governo inimigo.
Bem, o Ben também não se saiu melhor quando disse, semana passada que a entidade tem ferramentas para estimular a maior economia global, mas não deu detalhes sobre quais medidas podem sertomadas. Ferramentas? Quais? Uma cadeira eletrica? Um vibrador enorme que nem a Linda Lovelace conseguiria “deep “throatar”. Ou essa “ferramenta” significa uma foice e um martelo, nos remetendo a tempos frios e horrendos? Ou uma simples mangueira de apagar incêndios? Ou uma arma de destruicao de “massas” (raviolis, spaghettis, fettuccinis, etc) implicando na morte subita de toda a comida italiana?
Claro, ja ia me esquecendo do essencial: Nao foi o Obama que nos levou ao Iraque e que perdeu anos e anos de mismanagement no Afeganistão (depois da desastrosa aterrisagem de Bush num porta aviões com placares berrando “mission accomplished” . Não, não foi o Obama. Mas foi o Obama que herdou
países inúteis e com relativamente pouco petróleo herdados de um retardado que não conseguia pronunciar a palavra “nuclear” , aliado ao seu (agora arqui-inimigo e vice DC – aquele velinho de cadeiras de rodas e coração mecanico, que ligou pra Casa Branca no inicio desse artigo. Não, não foi o Obama que nos enfiou num gasto extraordinário de 800 bilhoes de US$ (so no Iraque). Não, não foi.
Perai que fiquei nervoso de novo. Vou na minha “GO bag”, pronta desde que o furacao (quase) nos inundou.
GO BAG
É aquela bolsana que contem todos os ingredientes pra que se sobreviva em Manhattan. Ela consiste de 2 garrafas de agua mineral Poland Springs , um canivete suíço, restos de maça e castanha de caju, barras de cereai de proteína com Omega 3, 6 e 9, o livro de poesia francesa sem tradução, uma copia do New York Post, uma troca de roupa, medicamentos, mascaras (contra guerra bacteriológica mas que também serve pra Halloween, bloquinhos de papel, canetas que vazaram e um mapa do subway, iPad, iPos e não pods. No mínimo.
O presidente Obama provavelmente não tem uma GO Bag. Cheney também não. Talvez fosse hora de dar de presente uma dessas bolsas pros deputados e senadores de Washington, outra (mais caprichada pro Obama e pro Cheney) e pedirem pra evacuar a captal e declara-la defunta, maquiavelicamente doente e sem possibilidade de recuperação. Assim , quem sabe, essa nação se reergue como a velha águia, orgulhosa de seus valores, sejam la quais forem, mas valores, mesmo assim.
E no fim do fim de uma soup line, coloquem todos os políticos , atrás dos mortais (14 milhoes) de pessoas que precisam de empregos. Claro, os políticos munidos com suas devidas GO Bags a tiracolo, obvio.
Gerald Thomas
Sep 3, 2011

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