quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Por que Gerald Thomas escreve sobre os corpos em crise?

Como todos sabem sou fã e leitora da obra de Gerald Thomas e como eu já disse aqui inúmeras vezes, Gerald é um performer e está em diversas áreas da arte, mas o que de fato me chama a atenção, é sua paixão por algumas personalidades, e como sempre, tratando de corpos em crise, sempre falando de pessoas que já faleceram ou que por algum motivo mudam seus caminhos na arte.
Para Gerald falar sobre a crise talves seja um modo de falar também sobre suas próprias questões, mas de fato em qual crise esse gênial escritor, que escreve com a alma, esta passando agora?
Alguns meses atrás eu dei uma entrevista para a Folha e eu dizia exatamente o que aconteceu 2 meses depois: Gerald é um performer não acabou nada e é provável que ele esta criando, e em algum momento ele vai renascer da cinzas, como uma Fenix!
Mas quem poderia imaginar que eu estaria certa?
Ele jamais parou de falar de mortes e do desistir, tudo isso nos serve de lição, e nos demostra a grade crise ao qual a arte se encontra agora!

Abaixo o trabalho de um artista que escreve sobre a crise de um artista:

Adriane Gomes e Mestranda do Curso de Tecnologia da Inteligência e Desisgner Digital.

 
Sem Larry King, ficaremos todos órfãos
Apresentador marco da televisão americana anuncia aposentadoria já com ar cansado e com baixo ibope

NÃO ME PARECEU JAMAIS QUE LARRY KING QUISESSE ENTRAR PARA A HISTÓRIA COMO INTELECTUAL [...] SUSPENSÓRIOS. ESSES SIM, TÊM ENORME EGO E CRIARAM ESTILO
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES
"Antes de começar o programa de hoje, quero dividir com vocês uma notícia pessoal. Há 25 anos, eu sentava nessa mesa entrevistando o governador de Nova York, Mario Cuomo, e essa seria a primeira edição de "Larry King Live". Agora, décadas depois, conversei com a CNN e disse que gostaria de dar um fim ao programa diário e noturno. Eles graciosamente aceitaram minha proposta e vou poder me dedicar à minha esposa e estar presente na "little league" de beisebol dos meus filhos."
Foi com essas palavras que o rei dos reis começou a despedida do cult e culto "Larry King Live".
Começando num pequeno estúdio de vidro da CNN no World Trade Center, o sr. Larry, 77, hoje me parece cansado e com baixíssimo ibope. Larry King para mim era como uma voz paterna.
Noite após noite, podia contar com sua presença, com suas obsessões (celebridades, crimes, sátiras e "o" poder) e ficava sabendo sobre o que acontecera no mundo através de sua introdução.
Sim, King nos levava aos advogados diretamente envolvidos com o caso de O. J. Simpson, ou até a mansão de um Marlon Brando inflado, que o beijou na boca, depois de cantarem juntos e emocionarem meio mundo ao quebrarem todas as regras daquilo que um programa de entrevistas deveria ser.
King é um curioso. Nem todos os televisivos o são. Também é justo e nos dava horas de críticos e analistas como Bob Woodward ou Michael Moore. Ou os primeiros-ministros estrangeiros e "presidentes ocultos" em buracos no Iraque. Todo mundo se confessava diante dele.
Ao contrario de David Letterman ou Jay Leno, King tem escuta. Seu interesse pelo mundo é incansável. E agora? Vai acabar? E vamos ter de aguentar Piers Morgan? O inglês chatíssimo do "America's Got Talent"? Como vou viver? Talvez deva me casar com Ozzie Osbourne e dar adeus à sanidade mental.
Não me pareceu jamais que Larry King quisesse entrar para a história como intelectual ou cunhador de pensamentos profundos. E está aí a beleza da sua (aparente) falta de ego. Suspensórios.
Esses sim, têm enorme ego e orgulho e criaram um estilo.
Judeuzão do Brooklyn, NY, King começou a vida como radialista em Miami e levou um "pontapé" para a frente quando Sinatra apareceu por ali há mais de 50 anos. E foi no "Larry King Live", na CNN, que vimos Sinatra pela última vez.
Muitas vezes, o público gruda na TV porque King entra em detalhes do "tecido americano", ou seja, da Constituição, dos "pais fundadores" da América, quando entrevista juízes da Suprema Corte ou um evento como o massacre de Columbine merece noites de atenção.
King também dá voz a Moore e a outros críticos da sociedade americana. Na TV do "mundo", ninguém é justo, poucos têm escrúpulos e a maioria é fabricada por agências da Madison Avenue.
O que distingue King dos outros (com a exceção de Letterman), é que Jerry Seinfeld se despedindo (também em seu programa) ou Jerry Lewis carrancudo (tentando explicar que inventou a comédia -esquecendo-se de Chaplin, Keaton, Jacques Tati e tantos outros) merecem o que foi chamado de "King's shoulder", ou seja, "ombro do rei".
Depois de um longo discurso a respeito da genialidade do convidado (feita por ele mesmo), King não olha mais para o entrevistado, chama o intervalo comercial e volta com perguntas do público, geralmente agressivas. Irreverente, simpático, antipático, envolvido, rasteiro, grosso e ingênuo, gênio e dono de um "timing" invejável, Larry King se despede do mundo com a pior desculpa: "Preciso de mais tempo com minha família" (depois de sete casamentos). Sem bandas tocando, sem adereço além da mesa e de umas cadeiras, ficaremos todos órfãos.
Eu? Ficarei órfão mais uma vez. Já perdi toda a minha família e agora vou perder o representante e o embaixador da figura paterna.
GERALD THOMAS é diretor e autor teatral.

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