sábado, 18 de outubro de 2008

O BIXO

Foto: Fernanda Echuya - Respect - 2008

A maior parte de análise sobre uma possível evolução humana e sua capacidade de codificar as leis da natureza a fim de constituir uma cultura própria se deu através da sofisticação, do desenvolvimento e do avanço das habilidades de suas ferramentas. Ferramentas essas que passou a registrar todo o seu processo histórico e modificando também o espaço e tempo de seu habitar, na qual o homem se via cada vez mais condicionado ao seu uso, não podendo mais assim conceber o mundo sem o uso dessas suas extensões artificiais.

Os cincos sentidos humano de percepção passaram, portanto a interpretar e a imitar através de suas ferramentas as leis da natureza, interagindo cada vez mais no ambiente do planeta à medida que suas extensões ferramentais iam alcançando mais fundo na natureza, ia sendo filtrando assim a sua experiência de vida e o desenvolvimento de seu pensamento em função da razão e da sua lógica artificial do uso dessas ferramentas.

Assim cada época passou a desenvolver uma tecnologia específica, devido ao círculo vicioso de condicionamento que homem enfrentava para manter a sobrevivência de sua cultura e dar continuidade ao processo histórico de sua experiência de vida. Se analisarmos partindo desse ponto de vista, veremos que a tecnologia não sofre uma evolução de projeção linear de desenvolvimento e sim de uma adaptação para codificar os fenonêmo no caso aqui tanto naturais como humanos, criando assim um terreno fértil para dar continuidade ao condicionamento de aperfeiçoamento de sua engrenagem e por tabela manter sua força motora e criadora que nesse caso passa a ser o homem em seu perfeito domínio.

Então cabe aqui falar que quem evolui não é o homem e sim a sua tecnologia, suas extensões artificiais é quem abre campo de pesquisa e sensações do mundo que o cerca dirigindo os seus sentidos a explorar a vida através de artifícios e deduções racionais, é através da experiência tecnológica que o homem pauta a sua vida.

Esta inversão de valores já foi analisada por diversos teóricos no decorrer da história depois da revolução industrial na quais as ferramentas que o homem cercava passaram à cerca o homem e se transformaram em máquinas, constituindo assim um ambiente frio e insólito nas quais as teorias de Karl Max foram se desenvolvendo até sugerir várias reflexões sobre o processo de alienação que enfrentava o homem devido ao direcionamento e uso das ferramentas que depois do processo industrial se transformaria no processo chave da produção em larga escala e acúmulo de capital condenando a maior parte da humanidade a ter uma vida e trabalho subumano a ritmos mecânicos na qual se concentrou toda crítica ideológica do início do século XX.

Como toda experiência da vida humana passa a ser vivida, filtrada e produzida pelas máquinas, passa a ser alterado de vez o sentido da cultura e da comunicação e das ideologias humana, os detectores desde maquinário irão degustar de um poder incomparável a outras épocas, de difícil julgamento, já que eles servem também ao sistema de programação autônomo do desenvolvimento tecnológico que aponta sempre como solução entusiasta a resolver os problemas da humanidade.

Com a invenção da fotografia, cinema, rádio, televisão, vídeo imagens e computadores todo ambiente cultural humano passa a ser programado, calculado e abstraído pela força produtora industrial e econômica, Vilém Flusser e Mc Luhan em suas teorias já alertavam para as mutações sensoriais e a tendência da transfiguração do ambiente industrial pelo ambiente sintético total, a Era Digital.

O Homem aos poucos vai parando de criar através mundo com as matérias primas e secundárias que são transformadas pelas máquinas e passa a criar agora direto da esfera digital ligados a plugs e aparelhos que cada vez mais se aproxima de seu corpo na tendência de conectar de vez seu corpo orgânico a suas extensões sintéticas, todos os seus sentidos, seu mundo e dados culturais passam a ser abstraídos, calculados e recriados pelo computador.

Aparelhos como celulares (minicomputadores), que já na própria antologia do nome já demonstra a pretensão de ser mais um órgão humano, se assemelha muito mais as antigas ferramentas por ser de uso manual e de fácil deslocação, se pressupõe que cada vez mais tanto o habitar como também o corpo humano estará sobreposto junto ao tempo e espaço nulo da esfera digital.

A abstração do mundo concreto a suas simulações imateriais encontrou no computador o seu suporte ideal, todas as manifestações imateriais desenvolvidas pelo pensamento humano se encontra agora presente através da grande rede "a internet", o corpo humano passa a ficar cada vez mais obsoleto se não manter uma performance virtual condizente a nova esfera que se configura, a consciência humana e as dimensões e sensações da percepção de seu corpo e do planeta passa a ser alterada de forma radical neste novo ambiente que se denomina como cultural digital.

A presença e ausência, o corpo e a tecnologia, a crítica à evolução linear e a transfiguração da natureza em ambientes sintéticos computacionais e cidades poluídas, e entendendo o planeta como um grande organismo vivo, a performance "O BIXO" vem através desses meios tecnológicos artificiais voltados neste caso à percepção artística e a presencia corporal, funcionar como um índice dos desafios e sensações que enfrenta o homem contemporâneo, na tentativa de dar continuidade a sua experiência de vida em meia a tantos ambientes e pensamentos sintéticos a respeito de si, levantando assim uma reflexão de forma simbólica espelhada na relação atemporal da pessoa humana e sua tecnologia.


Texto: Cristiano Feitosa do Vale - Coletivo Salamandra

Um comentário:

Rubens disse...

Caramba!
Muito bacana o trabalho que vocês fazem, admiro muito o conceito que vocês criaram. Seria bem bacana se vocês divulgassem no ebeatz.
www.ebeatz.com.br

Criem um grupo lá! Valeuu!