quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Erótico e o estético

Um assunto que está me intrigando o pensamento é o erotismo. É um terreno movediço, e por isso mesmo tem que ser trilhado, elaborado pela sensibilidade e pelo pensamento. Creio que podemos pensar no obsceno como o que está fora de cena, de contexto. No limite, o ato sexual mexe com todas as nossas posturas ditas civilizadas, ele é o momento da pulsão e da entrega, do extravasamento.Do amor e do ardor, quando olhamos um ao outro recebendo o gesto que nos provoca prazer e carinho ao mesmo tempo. Nessa troca de olhares e de calores táteis corações e corpos se acendem e se inebriam um com o outro, desvelando o tesouro do afeto e do desejo escondidos pelas situações sociais. Todo esse enleio, esse encantamento íntimo sofre a prova do deslocamento de lugar seja na literatura, no cinema, ou qualquer outra manifestação. Saindo dessas quatro paredes, corre-se o risco de ficar obsceno, palavra que vem da linguagem teatral e indica o que está fora de cena. Nesse momento é posta a prova aquela energia e desejos gerados numa intimidade com a parceira ou parceiro, e nos vemos frente a frente com a publicidade do prazer e da intimidade. Nesse espelho que é a cultura, que são as obras humanas, reaparecem essas cenas protegidas pelo segredo de quatro paredes. E é aí que a nossa sensibilidade e nosso pensamento são postos à prova. Somos desafiados por essas imagens ou palavras, nos excitamos ou nos chocamos, estamos naquela posição da pessoa que está observando, fora da cena, as pessoas e achando ridículas as pessoas que se remexem ao som de uma música, estranhando aquilo que há minutos atrás desfrutávamos alegre e despreocupadamente, ou pelo contrário, ficando com mais vontade de entrar na dança. Como não quero colocar observações morais o que complicaria a questão, me limito a mostrar o quanto o olhar fora da cena do que é vivenciado, abre o campo para uma outra sensibilidade ou um outro pensamento atuar na recepção, já agora de uma obra, seja literária, refinada estilísticamente, ou visual, atravessadas pelos valores da composição estética, ou de uma atitude reflexiva; Ou trate-se de um produto do entretenimento mais fácilmente digerível e de fruição imediata. Até o meu texto todo cuidadoso, pode provocar algum tipo de arrepio ou de imaginação. De qualquer maneira, sempre se estará, na minha opinião, entrando na tensão do que é vivenciado, do que tem a sua verdade naquele momento, e do que está fora da cena, a mostrar-se como num espelho, nos tirando da postura anestética, e tocando as fibras do nosso segredo afetivo e sensual.

Texto: Roberto Cordeiro Sanches
Fotos: Fernanda Echuya

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