sábado, 24 de abril de 2010

O Bixo


Adriane Gomes . Uriel Maniglia . Guilherme Godoy . Cristiano Feitosa . Diego Ávila . Fernanda Echuya
O BIXO – Cristiano Feitosa [08ض08]

O que representa o corpo humano? Que bicho é esse que se movimenta pelo planeta terra? Que ambiente ele produz para vivenciar a sua experiência de vida? São apenas algumas perguntas de tantas outras que suscitaram em minha cabeça o no meu corpo inteiro de me ver envolvido na performance de Adriane Gomes chamada “O Bixo”.
Um corpo ainda envolto por um casulo que se recontorce no chão se rastejando e se guiando aparentemente pelo faro, é acompanhado por um aparato tecnológico: câmera, luz, dois projetores e um retro projetor, que projetam na terra improvisada ou em qualquer espaço do ambiente três imagens diferentes, uma projeção em tempo real da performance, outra já gravada e editada - uma espécie de acumulo de imagens da mesma performance (um rastro de apresentações) - e um retro projetor que lança imagens abstratas sobre o casulo que se movimenta e cobre todo o espaço deixado pelo balé das imagens; Um som orgânico toma conta de todo ar com referências em músicas ritualísticas indígenas.
Quando este corpo envolto por um casulo começa a transparecer e aos poucos vai saindo e se definindo como um corpo de mulher, nos leva a refletir a toda simbologia que está neste ato de transformação. Na natureza o casulo vem como um sacrifício de um bicho que rasteja e que enfrenta essa incubação para se transformar em uma coisa leve como, por exemplo, uma borboleta que depois deste momento de angústia pode voar, simbologia esta que reflete nos nove meses que antecede o nascimento humano e o processo de transformação que passa a mulher no período da gestação.
Portanto quando este corpo de mulher sai nu do casulo, se levanta e passa a andar e respirar com certa força acaba por nos remeter a nós mesmos: o que somos? Em que espécie animal nos transformamos? O que viemos fazer aqui? E todos os movimentos deste corpo que mesmo fora do casulo, ainda suspira algumas contrações, é cercado por todas as imagens projetadas provocando assim extensões de si mesmo, uma metáfora a critica de toda a tecnologia que inciste em nos representar e o mundo que nos cerca a cada instante, criando assim simulações em cima de simulações da referência da experiência única que é a vida, pois toda tecnologia vivenciada é fruto da ciência da tecnologia e razão e “O Bixo” se encontra no âmbito da filosofia da transmutação de valores instinto-emoção.
Quando este “Bixo” que é uma mulher nua
é refletido por todas as imagens saídas das projeções, aos poucos o espectador vai perdendo a referência de um corpo orgânico através de uma confusão de espectros que é produzido pelo mesmo corpo, sintetizado pelas maquinas de produzirem signos imagens, sua imagem filtrada e projetada ao vivo, a sua imagem já gravada em outro tempo espaço, a sua sombra diante da luz do projetor e por aí vai, elevando assim o conceito do “Bixo” até chegarmos ao bicho maior que é o próprio planeta terra, este ser orgânico multifacelado em vida suspenso no ar que vem sendo estrupado, maquinificado e robotizado pelo bicho homem que renega sua natureza criando um outro ambiente, um outro tempo, o tempo das máquinas na qual o corpo humano se vê preso e sujeito a sua lógica de funcionamento de toda esta
engrenagem do um mundo sintético.
O Bixo vem para levantar essa discussão, precisamos sair do casulo, porque agora mais do que nunca se tornou emergencial saber o quanto estas tecnologias estão condicionando as nossas experiências de vida e toda exuberância e eficiência da natureza, respeitando e dando continuidade ao ciclo de todas as formas de vida do Bixo Terra.
E ao final da performance tudo se apaga lentamente e este corpo agora caminha tranqüilo e ás vezes sim e outras não, cita um poema de Alberto Caeiro heterônimo de Fernando Pessoa: “O Guardador de Rebanhos” e sai juntando-se aos demais espectadores e de forma bem sutil. “O Bixo” sai de cena, deixando assim cada um com seus bixos pessoais indefinidos.



Beijos e abraços a Adriane Gomes idealizadora da performance, Fernanda Echuya, Guilherme Godoy e Uriel M.M.


Texto: Cristiano Feitosa
Fotos: Fernanda Echuya

Um comentário:

Unknown disse...

Drica eu li e vi... adorei e principalmente dos voos da salamandra... que massa